COVID-19: Presidente da associação empresarial faz a radiografia do sector em Arouca.
A pandemia do Covid-19 está a provocar um verdadeiro sobressalto na economia internacional e nacional com consequências imprevisíveis. O governo e a União Europeia já anunciaram pacotes de estímulos à economia. A vida empresarial de Arouca, baseada em PMEs e no pequeno comércio, também vai ser atingida por esta travagem a quatro rodas da economia.
RODA VIVA questionou Carlos Brandão, presidente da AECA, sobre este momento conturbado da nossa vida colectiva e os seus reflexos no tecido empresarial do concelho. JCS 2020-03-19
RODA VIVA: Que impacto imediato a pandemia do Covid19 está a ter na economia local?
CARLOS BRANDÃO: Está a ter um impacto gigantesco e inimaginável, impensável há um ou dois meses atrás. É um verdadeiro tsunami que vai deixar, infelizmente, muitas marcas e que necessitará de algum tempo para se reabilitar.
A crise é transversal a todos os sectores, embora alguns, pelo menos no início, sejam mais afectados do que outros. O comércio, a restauração e empresas ligadas ao turismo tiveram efeitos imediatos. A indústria é mais resiliente mas também começa a sentir dificuldades porque exporta para muitos países que estão a passar pelo mesmo problema, as fronteiras estão fechadas, não consegue escoar os seus produtos e não consegue ser abastecida com as matérias primas necessárias para o fabrico.
O espaçamento temporal que esta durará é que determinará o grau de profundidade que a crise irá ter na economia e no emprego.
Quais as medidas que estão a ser preparadas a nível local para minimizar esse impacto?
Estamos em ligação estreita com os dois Municípios onde temos a maioria dos Associados (Arouca e Vale de Cambra). Eu tenho estado em contacto telefónico diário com os dois presidentes das Câmaras para dar conta do que está a suceder e a trabalhar em soluções de ajuda às empresas que de dia para dia parecem nunca ser suficientes. Por exemplo no dia de ontem tentamos abordar os dois Municípios para estes implementarem parte ou a totalidade das seguintes medidas:
– Oferta das facturas da água para as empresas (aplicação da isenção total de taxas de disponibilidade de água e saneamento para todos os estabelecimentos do comércio e serviços e indústrias que encerrem também para o período do segundo semestre de 2020);
-Isenção de taxas de ocupação de espaço público, esplanadas e publicidade (também para o período do segundo trimestre de 2020);
– Derrama- Redução pelo menos nos duodécimos proporcionais ao período de paragem;
-IRS – De acordo com o Regime financeiro das autarquias locais e das entidades intermunicipais, todos os municípios têm a direito a uma participação variável no IRS dos seus munícipes. Assim, todos os anos, o Estado transfere para as autarquias, 5% da receita de IRS que é cobrada aos seus habitantes e o que pretendemos é que haja a devolução desta participação aos munícipes.
É claro que estas são reivindicações nossas e não sabemos até que ponto os Municípios estão ou não em condições de as satisfazer. É esse trabalho conjunto que estamos a desenvolver.
A AECA está acompanhar a situação junto dos seus associados?
Posso dizer que os técnicos da AECA e os membros da direcção têm trabalhado todos os dias, mesmo ao fim de semana, por video-conferência e têm contactado muitos associados dos mais diversos sectores acompanhando a situação em termos de legislação que sai a cada hora que passa e aconselhando sobre as mais diversas matérias, contactando os gabinetes de Protecção civil dos Municípios, emitindo clarificações e interpretações da legislação, formas de actuar etc.
Estamos também a fazer a ligação aos Municípios e a fazer o acompanhamento dos casos de contaminação que vão surgindo. Fazemos também acções de sensibilização junto dos associados no sentido de os tornarem alertados ou mais responsáveis pelos comportamentos que se devem ter “em tempo de guerra”.
Por exemplo alertamos ainda hoje, mais uma vez para que todas as pessoas e/ou todos os quadros das empresas que regressem de uma área com transmissão comunitária activa do novo coronavírus, que nos próximos 14 dias, se mantenham em isolamento social e que fiquem atentos a todos os sintomas que possam aparecer, não se deslocando de imediato aos serviços de saúde a não ser que apareçam alguns dos sintomas da doença.
Nesse caso aconselhamos a que liguem para o SNS24 (808 24 24 24) e a seguirem as suas orientações.
Parece simples, mas nem sempre as pessoas estão atentas ou sensibilizadas para assim agirem, evitando muita propagação e muita destruição de economia futura.
Acha que os estímulos / apoios do governo e da UE serão suficientes?
Numa situação destas e em “estado de guerra” nunca as medidas serão suficientes e estamos a assistir a isso mesmo. São lançadas medidas que parecem razoáveis e logo no dia seguinte são precisas novas porque as anteriores não surtiram efeito.
Posso enumerar as que propusemos solicitar ao governo no dia de ontem em conjunto com os Presidentes dos municípios:
a) Aumentar a linha de apoio à tesouraria das Micro e PME´s, que deverá ser de amplo acesso e gerida por entidades governamentais de forma a garantir que chegue a todas as empresas;
b) Reduzir o preço da electricidade e do gás natural, de forma a acompanhar a abrupta descida do barril do petróleo, promovendo, desse modo, a redução da factura energética com a consequente melhoria na competitividade nas empresas;
c) Alargar a flexibilização de todas as obrigações declarativas das Micro e PME’s para com os diversos órgãos do Estado (Segurança Social, Autoridade Tributária e Aduaneira, Agência Portuguesa do Ambiente, Instituto Nacional de Estatística, Banco de Portugal, etc).
É claro que são mais algumas que ainda não existem e que fazem sentido que venham a existir para mitigar o flagelo económico que aí vem.
Que palavra gostaria de deixar aos empresários de Arouca?
Os empresários de Arouca e empresários de Vale de Cambra são gente séria, honesta e psicologicamente robustos (tão robustos como a natureza que os rodeia) pelo que estão a “travar esta guerra” de forma muito responsável e patriótica. Uns indo para a frente de combate e outros ficando resguardados e evitando que os seus estabelecimentos fossem fonte de contacto e de transmissão da doença, muito antes do governo proibir, o que denota o seu humanismo e patriotismo. Os que estão na frente de combate são mais as empresas do sector industrial que, obedecendo a todas as normas de higiene e de segurança, vão trabalhando para não deixar afundar completamente a economia local exactamente na linha do discurso proferido pelo Presidente da República de ontem quando anunciou o estado de emergência nacional.
Uns e outros terão todo o apoio da AECA e também, posso aqui afirmar, dos presidentes dos Municípios, que estão dia e noite a trabalhar para que este “afundanço económico” não seja tão profundo.
Perseverança, resiliência e muita confiança para todos porque, eu acredito, que a recuperação após a eliminação da doença será rápida (será em forma de V) a acreditar no que dizem alguns dos melhores economistas nacionais e internacionais.